Fúnebre desatino

Permutou-se minha palavra em acalanto, 
virou uma forma de me perpetuar
na dor, na alegria de um quebranto,
na forma rubra do desabrochar.

Tu crês que eu há muito me perdi, 
chafurdei no vício de um inalcance, 
e, por tudo, acabou que eu me destruí.
Que eu não deixo que meu peito descanse.

Mas ouças a minha urgência -
são as falhas longas do meu querer
que me permitem essa insolência -
porém veja o meu padecer!

Tu creditas ao meu medo a construção
do altar onde empilhei oferendas.
Pensas que do cansaço surgiu a canção
e que ela me abriu nos olhos as sendas.

Eu penso que se vais e rasgas minha face, 
que se sujas meu brilhante resto de virtude,
quero que todo meu amor se desgrace,
quero que tu eclipses em tua magnitude.

0 comentários:

Postar um comentário