(Achei no fim de um caderno)

O meu medo é múltiplo, são.
A pele rasga sozinha em preto e branco,
as minhas vozes gritam com vontade.
Pois tudo é uno e vários. 


Não consigo fugir, me desespero.
Lágrimas sanguinolentas em sonho. 
O vento passa, uivando o choro,
enquanto as luzes correm todas.


Dançando em fios metálicos, 
gelado beijo no espelho negro.
Eco de amor, uma vida no ódio,
sou um resquício de majestade.


Caindo por nuvens, noite adentro,
                                e voando no sol com asas enceradas.


Espero o fim de meu tempo.

Flagelo

Me cobrindo de rubis, descascando meu corpo nu
em esmeraldas sujas que rasgam minha pele.
Nos lábios uma palavra inócua, insípida,
servindo para que eu me esconda do ardido sol. 


Caindo no lajeado onde já pisei, altiva, 
naquela dor que, de tão irreal, acaricia
e, nos goles alimentando meu vazio, 
peço para perdoarem-me os pecados. 


matai-me queimai-me tudo com a ferocidade de quem quer ver a dor perfure cada canto de minha alma se desfazendo gotejante pois não há como salvar esse corpo que vazio fraco chora.


Lamento, minhas voz não consegue mais
se sobrepor aos seus olhos tão azuis e verdes.
Agora vou encolher-me para dentro da luz, 
lavando as marcas, chibatadas de fogo.


Me alce ao inferno à custa de esforço dantesco,
enforque meu sangue em seu pescoço.
Voando a fada de asas de pétala,
e meu rouco olhar persegue o mundo.