Infinitesimal

Mal acariciou o tempo em dedos a se roçar - 
na harmonia dos olhos enviesados e da timidez. 
Enquanto não existia razão para o arfar, 
nem para aquele ínfimo recanto de insensatez. 

A esperança que tinha olhos de esmeralda, 
como monstro da inveja, zombando da loucura
de tocar os sonhos com as mãos em grinalda,
um pendor de um sofrimento que não cura.


Dela o sol queimou a pele - 
                                      delgada casca de seus amores. 
Dele retirou da vista as cores -
                                           o homem que se acautele.

Resquício e eco quando do toque
incompleto dos afrescos em suas memórias,
inevitável marcha fúnebre que invoque
a verdade amarga e sem glórias. 

Perdeu-se em sua imensidão de mácula
                                                         a esperança
Ao correr do tempo o ínfimo prazer
                                                  em vingança

Eles roubaram uma fenda - 
                                       deixaram-se alumiar.

Deles a natureza pudenda -
                                       impediu-os de se entregar.

Qui est-ce?

A criança tem fome,
fome do ar que é puído,
fome da água que é branca, 
tem olhos grandes cheios de febre. 


Mas a criança não chora. 
Nem de fome
                    nem de febre.
A criança tem frio!


É do frio rasgado, 
é do frio dissonante,
a boca aberta cheia de fogo.


Mas a criança não chora.
Nem pelo frio
                     nem pelo fogo.

Criança do horto!


Criança martirizada, 
pelo frio e a febre,
pela fome e o fogo.


Criança dos olhos grandes.
Criança da boca aberta.
...criancice viciada - 
pelo frio, fogo, fome e febre. 


Mártires as crianças!
Só fotos e folhas,
                sem a friagem.
                sem o fogaréu.
Só olhos e boca.
                 sem esfaimar. 
                 sem fumegar.
Só a criança.