Sa(a)ra


Um pé na frente do outro - devagar
O sol escaldante joga fogo em seu corpo
Ela sacode seus cabelos para trás
seus olhos estão rasos d'água

Rachaduras no solo seco de seus lábios
Gemidos descem do céu e pela garganta
É o oposto do ideal, é a dor ardida
Uma dança nas areias
e três suspiros úmidos

Trêmula figura surge ao longe
Delicada e quebradiça pelas dunas
As duas são uma só; areia e mulher

Em seus sonhos não existe nada
Além de tempestades para agitá-las
Chuvas para alimentá-las
E miragens para iludi-las

Escola Literária: Barroco


Enquanto a palavra divina é passada

de boca em boca

As mentes dissecando a terra salgada

junto com a carne

Cada um vê seus próprios pecados

Línguas ferinas murmuram, conspiratórias

Suas blasfêmias contra os mandamentos sagrados

A retórica do mestre gera o silêncio

Os olhos escorregam pelo livro

matéria, sensualismo

Estão mais presentes que o ideal divino

espírito, ascetismo

O pregador particular brinca

Mas, irônico, não perdoa

Porque uma mímese de autora critica

Ele retruca, a autocrítica ecoa

(Por que ainda não me formei em Letras Atéias?)

O curso corre e, disfarçadamente,

As palavras escritas são hipócritas

afinal, sermões eu trouxe

Duramente, incito a rebelião contra o ópio

E continuo aqui, ouvindo a palavra do mestre

Frases soltas que vão contra os ensinamentos

Ah, viva o meu ódio à Igreja!

Poema dedicado ao professor Zé Edu.