O mundo tem de ser desequilibrado



Parada, diante de um mar que é nascente,
te olho, com tua formosura, despida frieza.
Céu lacrimoso, me vê com teu ar cadente,
mas meu sorriso mal percebe toda a beleza.

Quais as horas que penso sem te amar?
Dá-se o peso para uma mal-escrita balança –
daquelas que já principiaram o enferrujar –
dos meus eternos ardores de criança.

Ofertei, como dádiva vazia, meu futuro.
Lancei, como revoada negra, meu carinho.
Tentando andar com uma dor que mal aturo,
tingindo meu vestido branco de vinho.

Valeu-me cada um dos sonhos quebradiços
em que a gargantilha apertava as veias.
Pensei em faces repletas de viços,
onde surrupiam-se as vidas alheias.

Fez-se o sol na minha boca quente:
exclamei palavras que nunca conhecera.
Percebendo que não importa ser inerente,
enquanto seu corpo ainda escorre cera.

Em fúrias e vento fez-se o hiato
de vozes há muito cansadas – amargando.
Eu olhei além do montanhoso retrato,
estava lá a flor do universo, latejando.

Sussurrou-me uma folha malquista:
‘Deixai de lado essa descompostura da dor.’
Porém dei-me o prazer de ser egoísta,
fremente, segui para continuar o labor.

Como não me fiz nenhum traço,
colhi apenas dois frutos do pomar,
por não entender – já tudo perfaço.
Vou fugir-me para o além-mar.

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