Diálogo

Ela olhava aqueles olhos fundos, negrume, pontos brilhantes de chama azulada pernoitando orbes líquidos. Uma pele cadavérica, luzindo como a morte, esticada sobre ossos de uma face esquecida do tempo. Lábios rachados que afundavam em si mesmos como dunas, manchas escuras sob as janelas em que se via uma alma caída, despedaçada.

Ela murmurava para aquele rosto triste, agarrada a uma esperança, tentando fazer soar a batida calma daquele coração vazio. O olhar desconexo, o sorriso perdido, nada brotava da chuva cálida que derramava seu pranto sobre doentia imagem. Sentimento abandonou-a, ela pensava em desistir, quase gritando para aquele rosto que ele precisava viver.

Ela, então, deu as costas para o espelho.

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