Poema: "Things
That Could Happen" de Jacob
Sam-La Rose
1. She swoons, falls into his arms
and
they live happily ever after.
E tem toda aquela alegria
suspense e doçura inacreditável que sufoca. A irrealidade dos sonhos – as
crianças que correm e fazem ciranda.
2. She kisses him: the restaurant applauds.
Explosões de momentos
inquietos.
3. There’s a pin-drop silence. She turns
the
knife in her hand, slowly.
Respiro.
Um
Dois
Três
…Não há espaço para a
hesitação quando se tem no corpo um silêncio estonteante.
4. His heart bursts in his mouth before he can
say the words.
It splatters the table, ruins her dress, and she never forgives
him.
São longos espaços
vermelhos e ele sabe, mais do que sente, toda a desaprovação – seu corpo está
vazio, oco, e por isso mesmo consegue inflar-se com a indignação do outro.
5. He’s interrupted by a handsome man from
another table
who asks if he can cut in. She accepts, of course,
and waltzes
off to an orchestra of cutlery, side-plates,
strummed napkins and warm bread.
He seethes, turns bald
and tells the story to every man he meets.
Nisso não há nada a não
ser a vida que nem sempre tem seus pontos interligados e pessoas com olhos cegos ao que arrepia os braços.
6. She falls in love with the waiter.
E ele espera e olha de
longe.
7. She falls in love with the waitress.
Ele afasta-se sem saber
direito o porquê.
8. She starts by saying she’s quitting the
country,
that there’s nothing in London to keep her.
Ao invés de pedir
silêncio, desnudar a alma que desabrocha, fecha todos os botões e diz que sim,
que entende.
9. He loses his voice, has to write it all
down.
She spills a glass of wine, the ink blurs and swims
across the page. I’m sorry she says, and he
nods,
his eyes turning to crystal.
Comprovação pura de que
palavras são inúteis. Lá fora, canta um pássaro.
10. They laugh.
Corta-se abrupto o ar
----- prefere-se não saber. Sim, ignoremos.
11. They have passionate sex in the single
toilet.
Outside, a lengthening queue tuts and frets.
Someone presses their
ear to the door.
Transmuta-se, transfere,
despe, desfaz.
12. She doesn’t believe him.
Pensa em dizer de novo e
de novo e de novo até a eternidade. Muda de ideia, sente raiva da obstinação,
como ela não vê, esquece que nem sempre temos clareza para dentro.
13. They have 3 children. Some night, she tells
them
(again) how their father won her heart
over chicken gyoza and ebi katsu.
Whenever he hears this, something in him rises
like a bull-chested spinnaker.
Na verdade, a vida está
entre gestos microscópicos, nas pressões das mãos quando se encontram, nos
olhos escuros, nos nós dos dedos que embranquecem.
14. Her mobile rings. The moment falls, like a
crumb,
to the napkin in her lap. She brushes it away.
Ele pensa em ir embora,
esconder-se no escuro e quente, como um animal acuado.
15. He learns a new language—says it in French
or Swahili.
She’s mightily impressed, but doesn’t understand.
Ela disfarça, olha para os
lados, tenta captar um som, um rabisco de palavra, e sorri bem lentamente,
tentando amá-lo em estrangeirismos.
16. She chokes on a noodle. The tips of her
fingers turn blue
as she fights for breath, and fails. Later, he learns to
love
the bite of alcohol and numbs his tongue with ice.
As noites são mais longas
que os dias e a vida é gélida sequência de probabilidades já
mortas.
17. She chokes on a noodle. He Heimlichs her.
She
sees him in a different light,
as he dabs the sparkling sputum
from her lips.
Sente vergonha de ter
corpo humano, não ser pura abstração, quer que ele a desculpe, vê os olhos dele
tão atenciosos, continua ofegando.
18. He watches the way
she eats
and thinks better of saying anything.
Porque
perdeu-se aquele encanto, não devagar, mas sim como se removem pontos de
sutura. Um rasgo só.
19. Before he can speak,
she leans across the table,
fingers barely touching the corners of his mouth,
and says I know, already. I know.
A poesia infinitesimal da
vida.