Prelúdio para uma descrição


Os cabelos cacheados,
os olhos de jambo doce
na boca que espelha
um coração de terra natal.

Não tem nome, nem raça,
nem voz conhecida.
Tem apenas os sonhos
de criança sob o sol.

E como criança
nem tem forma.
Mas como humana
tem pernas, braços,
olhos e um nariz
que respira.

Sétimo dia


Na minha respiração há poeira,
meu arfar triste e jamais vivo.
Agindo como se fosse a coveira
do meu coração fraco e massivo.

Dei a ti palavras, pedaços...
Dei a ti uma mulher para amar...
Mas embriaguei de sonhos escassos,
agora só ouço malicioso debochar.
Se antes meu rosto tinha seu traço,
agora sou a pá a cavar.

Os dias escorridos e noites geladas!
Dirigiu-me a palavra apenas uma vez.
Como não respondi, furou-me com espadas.
Porém eu poderia estar muda, não crês?

Na terra umedecida de choros vagos...
Refogando o metal em minhas mãos...
Sorvendo minha angústia em tantos tragos
que até os abutres parecem sãos.
E a lua me espelha como mil lagos.